Sempre acreditei que abençoados são os pais que tem filhos especiais. Acho que somos escolhidos a dedo! Sim porque com eles temos muito o que aprender e a ensinar.
Mesmo sendo um grande desafio é um momento único para nos tornarmos seres humanos melhores! Eu acredito nisso!
Meu filho hoje tem 6 anos. Ele nasceu com uma perda auditiva profunda bilateral, ou seja, surdo!
Criei esse espaço para ser o meu lugar de desabafo. Aqui compartilharei meus desafios, conquistas e também espero ajudar outras mães que tenham filhos surdo como eu ou qualquer outra deficiência.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Entrevista com o ator Bruno Fagundes

Olá pessoal tudo bem?

Tenho vários assuntos para atualizar aqui no blog,alguns bem legais e outros nem tanto.
Mas como é fim de ano pensei em fechar aqui com chave de ouro.

Trago aqui um bate papo com o ator Bruno Fagundes que está em Cartaz no teatro Tuca com a peça Tribos (na verdade a última apresentação do ano foi no último sábado dia 15/12 e  retorna dia 17 de janeiro).

Porque escolhi o Bruno?

Como voces já sabem, na peça Tribos o Bruno interpreta um surdo que nasceu em uma família ouvinte,politicamente incorreta e cheia de preconceitos. Foi criado totalmente oralizado. Tudo muda quando ele conhece Sylvia uma moça que é filha de surdos e está perdendo a audição. É assim que ele entra em contato pela primeira vez com a Libras e a comunidade surda!
Para saber mais, você tem que assistir! É um texto forte e emocionante.
Fora isso o Bruno me emocionou como pessoa e como mãe de surdo. O carinho e o brilho nos olhos que ele tem quando fala da peça realmente me encanta.


Vamos lá?



Sabine: Bruno, primeiramente quero agradecer a oportunidade de trazer você aqui no blog. Obrigada mesmo de coração.

Bruno: Eu que estou muito feliz em conceber essa entrevista para você, o prazer é todo meu.



Sabine: Qual foi a sua preparação para viver o Billy? Foi muito difícil? Antes de trazer a peça para o Brasil você pensou em  algo e depois da preparação mudou de ideia?

Bruno: Foi um desafio bastante estimulante. Todos os papéis que fazemos no teatro são difíceis mas alguns são mais complexos. Foi o caso do Billy. Eu, por ser ouvinte, nunca vou saber o que é ser surdo, como é a verdade desse personagem, como é e vida interna dele, seus medos, suas ansiedades, sua personalidade e como colocar tudo isso para fora de uma maneira cênica, mas extremamente verdadeira; foi muito algo enriquecedor. Antes de trazer a peça para o Brasil, eu  não pensei em fazer o Billy. Não sei quem o faria, mas definitivamente não seria eu. Quando comecei a, aos poucos, me envolver, entender a real dificuldade fui percebendo que mesmo parecendo impossível, não seria. E que, claro, seria uma "auto-injustiça" não faze-lo já que eu que descobri o texto, produzi a peça etc. Mas toda vez que penso no resultado tenho muito orgulho e me sinto honrado por ter dado vida a um personagem tão incrível.



Sabine: Você tinha ideia que Tribos se tornaria esse sucesso de público e crítica?
Digo isso porque tudo que li sobre a peça está muito bem avaliado e sei que voces tiveram casa cheia em todas as apresentações.

Bruno: Não tinha a menor idéia! Fazer teatro é sempre um tiro no escuro. São tantas variáveis que determinam o sucesso ou fracasso que, honestamente só sabemos quando a peça estréia. Mas no fundo, minha intuição me dizia que seria sucesso.


Sabine: Eu fico tentando imaginar qual a sua sensação depois de 3 meses em cartaz vivendo o Billy que é um personagem tão forte e intenso. Qual é o impacto disso em você? Você acha que alguma coisa mudou em você depois desse papel?

Bruno: Sem dúvida! Todo personagem deixa uma marca forte na pele, na alma, nos ossos. Mas com o Billy fui além. Quebrei barreiras da comunicação, expandi minha maneira de ver o mundo, me apaixonei pela vida de novo. Jamais serei o mesmo.



Sabine: Qual a cena que você mais gosta e por que?

Bruno: Acho muito difícil escolher. As cenas são tão bem montadas e a dramaturgia é tão precisa, que todas as cenas são impactantes. Em muitos momentos, mesmo quando estou sem fala, lá no canto, estou tão presente e imerso naquele universo que só sinto prazer por estar em cena.



Sabine: Bruno, acredito que você nesses últimos meses deve ter escutado várias histórias, depoimentos de familiares ou até mesmo de algum surdo adulto. Alguma te chamou atenção? Por que?

Bruno: Escutei muitos depoimentos emocionantes, histórias realmente incríveis. Mas ainda fico muito surpreso quando ouço relatos de preconceito, falta de entendimento, desamor. É inacreditável pensar que estamos na era do auge da comunicação, da troca, e ainda existem pessoas fechadas para uma realidade, só por ela ser diferente da sua própria.


Sabine: Bruno, você sabe que existe a comunidade surda onde usa Libras e tem surdos Oralizados usuários da língua portuguesa que geralmente não usa, não sabe E nem tem interesse por Libras. No final do espetáculo vcs sempre abrem um debate. Já aconteceu de algum surdo oralizado reclamar sobre a peça por ela dar um destaque para Libras?

Bruno: Não diretamente. Mas muitos surdos oralizados fizeram questão de se pronunciar e dizer que a escolha que fizeram foi, sem dúvida, a melhor. O que é completamente natural, somos 100% a favor da liberdade de escolha. 


Sabine: Hoje você consegue perceber a importância da acessibilidade nos teatros e nos eventos culturais em geral? Você acha que um dia chegaremos lá e a acessibilidade será algo padrão?

Bruno: Sem dúvida. Acho que estamos caminhando a passos de formiga, mas sempre avante. Isso que importa. Acho que o progresso é processual e lento, principalmente no nosso país, mas não podemos desistir ou desanimar.
 Vamos continuar fazendo nossa parte, isso eu garanto.



Sabine: Foi difícil ter interprete no palco? Quais as dificuldades em fazer esta adaptação?

Bruno: Não tivemos dificuldade nenhuma em ter a nossa maravilhosa amiga Mirian interpretando.Para nós não mudou nada. As sessões de acessibilidade me presentearam com os momentos mais emocionantes que a minha profissão poderia proporcionar. Eu anseio pelos dias acessíveis!


O público do meu blog é de grande maioria formado por família e pais de surdos. Pais que acabaram de descobrir a surdez do filho e ainda não sabe lidar com essa nova situação. Como você sabe meu Gui hoje em dia tem a Libras como primeira língua e estou muito feliz. Com a sua convivência e experiência nesses últimos meses em que você mergulhou nesse "mundo", o que você falaria para esses pais?

Bruno: Eu diria que encontrei na LIBRAS um mundo de possibilidades e me apaixonei pela língua. Quero aprender cada vez mais e usar esse conhecimento na minha vida pessoal, tenho até alguns projetos na cabeça. Mas, novamente, sou a favor da liberdade de escolha. Mas não da escolha imposta, ou mais aceita pela sociedade, a escolha que é melhor e mais natural para cada indivíduo com as suas próprias limitações e facilidades.


Sabine: Tem projetos futuros nesta temática ou com foco na acessibilidade? Foi só um projeto ou teremos mais novidades?

Bruno: Eu descobri a acessibilidade e a surdez com essa peça. Mas aprendi LIBRAS e fiz muitos amigos incríveis no processo (você é uma delas), então não quero desperdiçar esse conhecimento. Quero continuar próximo a comunidade, continuar me envolvendo. 


                     Bruno e Gui


Sucesso pra você Bruno! Estarei te acompanhando sempre. Mais uma vez parabéns e até ano que vem onde pretendendo mais uma vez assistir Tribos (risos).
Feliz Natal e um 2014 repleto de realizações.

Obrigado minha linda! Pela ajuda que você nos prestou, pelo carinho, atenção e amizade. Você mora no meu coração. Um beijo enorme pra você, pra toda sua família e um Natal e virada de ano maravilhosos! Ano que vez tem mais! rsrsrs


   Piquenique no parque da Luz onde o Bruno e Arieta estiveram presentes.


Agradeço meus amigos Cyntia Teixeira, Thyago Santos, Juliana Fernandes e Dani Takara que me ajudaram com a entrevista.